terça-feira, 14 de junho de 2011

Enfermagem em Saúde Mental


Para compreender o processo saúde-doença mental, consideramos necessário pensar o ser humano em seu processo existencial. O processo saúde-doença mental deverá ser entendido de uma perspectiva contextualizada, na qual qualidade e modo de vida são determinantes para a compreensão do sujeito. Para isso, é de importância fundamental vincular o conceito de saúde ao exercício da cidadania, respeitando-se as diferenças e diversidades.
Moscovici (1985) e Manzolli (1996, p. 73) explicam sobre a função enfermeiro psiquiátrico e paciente:
O enfermeiro é um agente ativo que se une ao paciente com o objetivo de ajudá-lo a reconhecer e examinar situações que ambos estão experimentando, tentando levá-lo a observar perspectivas adequadas no encontro de soluções diante de problemas existentes. Embora enfermeiro e paciente desempenhem papéis diferentes (um procura ajuda e o outro a oferece), os objetivos são comuns, uma vez que buscam compreender e solucionar problemas através da comunicação, cooperação, respeito e amizade. À medida que as atividades e interações prosseguem, irão influenciar nas novas interações e nas próprias atividades. Logo, esta relação "atividades – interações – sentimentos" não estão relacionadas diretamente com a competência técnica de cada pessoa e, sim, com a influência do grupo e da situação de trabalho.
É um relacionamento humano de realce o que se estabelece entre um indivíduo que está doente ou necessitando do serviço de saúde e uma enfermeira preparada para reconhecer e responder a necessidade de ajuda. Quando a enfermeira e o paciente se encontram e se conhecem formam um compromisso entre ambos, de trabalharem juntos e por parte da enfermeira de ajudar o paciente a se recuperar socialmente. Ao estabelecer esse compromisso, a enfermeira orienta e esclarece sobre a dinâmica do mesmo.
Toda enfermeira deve ficar vigilante em relação ao paciente que demonstra deterioração no desempenho emocional, social ou ocupacional. As estratégias de cuidado enfatizam as maneiras do paciente para verbalizar os sentimentos e medos e para identificar as fontes de ansiedade. A necessidade de ensinar e promover as capacidades de adaptação efetiva e o uso das técnicas de relaxamento constitui as prioridades do cuidado.
A atenção em saúde mental que hoje procura substituir o modelo hospitalocêntrico por um modelo de cuidado em casa, vem sendo amparada por uma rede diversificada e qualificada de serviços especializados na comunidade, por meio de unidades de saúde mental. As ações de saúde mental na atenção primária devem sempre obedecer ao modelo de rede de cuidado, com base territorial e atuação transversal com outras políticas especificas. No dia-a-dia, o profissional de saúde deverá estabelecer com os usuários novos vínculos e oferecer, especialmente, acolhimento.
Temos que considerar a possibilidade de reinserção social do paciente e do fato de este necessitar do envolvimento e do comprometimento de todos, pois, independentemente da forma como a família se constitui, ela continua a representar a garantia de sobrevivência e proteção de seus membros. No entanto, para que haja funcionalidade efetiva nessa trajetória, muitos aspectos deveram ser considerados e inúmeros investimentos deveram ser realizados de forma sistemática para um real preparo da família; ao mesmo tempo em que os profissionais também descobriram este novo fazer, tarefa integrada e integradora do enfermeiro atuante na comunidade com o enfermeiro de saúde mental.
O planejamento das ações de saúde deve abranger, entre outros aspectos, a orientação sobre auto-assistência familiar, que consiste na perseverança de os profissionais incorporarem a família no grupo assistencial que cuida de seu familiar em ambulatório ou hospitalizado. Como se pode notar, a família está tão necessitada de ajuda quanto o usuário em unidade de atendimento psiquiátrico.
Na relação de ajuda, o enfermeiro utiliza os conhecimentos gerais da enfermagem e os específicos da situação com a qual se defronta, alem dos procedimentos técnicos. Utiliza ainda sua própria pessoa como instrumento terapêutico, nesse contato pessoa a pessoa agindo de maneira sistematizada e empática diante de cada pessoa em crise. Todo esse conhecimento é obtido através da comunicação que ocorre entre o que pede e o que ajuda se dá de forma dinâmica, tendo como unidade básica a palavra, embora nem sempre seja possível exprimir por esse meio os sentimentos, pensamentos e ações por causa dos seus vínculos emocionais. Para tanto, espera-se que o enfermeiro estimule o paciente a se expressar verbalmente, que o ajude a esclarecer o sentido e a natureza de suas mensagens, a concentrar-se e a perceber sua participação na experiência que está vivendo.
O desenvolvimento do relacionamento enfermeiro-paciente ocorre numa seqüência de encontros, através dos quais o profissional identifica as necessidades da pessoa que precisa de ajuda e, a partir desse conhecimento, programa as ações de enfermagem adequadas. O processo terapêutico não acontece nem no paciente nem no enfermeiro, mas entre os dois, na comunicação interpessoal. Através da escuta terapêutica podemos ajudá-lo a encontrar seus próprios caminhos.
Na medida em que a pessoa vai aprendendo a ouvir a si própria começa a aceitar-se; conforme vai exprimindo seus afetos e verificando no terapeuta atitudes de interesse e aceitação, vai mostrando-se como realmente é e passa a agir de maneira construtiva em relação a si própria e aos demais.
Uma das ações de enfermagem consiste em procurar demonstrar, durante todo o tempo, interesse em ajudá-lo, ouvindo atentamente suas queixas, ajudando a analisar toda a situação, incentivando a fazer um juízo critico da posição e desempenho de cada pessoa na sociedade; auxiliando a explorar as diversas alternativas plausíveis, apoiando em suas tentativas examinando as conseqüências positivas ou negativas. Ajudar a pensar mais objetivamente sobre algumas questões de sua organização de suas responsabilidades assim como a posição que ocupa no meio social.
O profissional de saúde deverá propor um conjunto de dispositivos que partam de uma visão integrada das várias dimensões da vida do indivíduo, em múltiplos âmbitos de intervenção, ou seja, deve procurar criar formas de produção de saúde e de vida, nas quais seja resgatada a história, a autonomia e a cidadania dos indivíduos.
O enfermeiro assume uma atitude de proteção, auxilio direção. Incentiva a pessoa a se expressar, porem põe limites ao comportamento destrutivo. Dá elogios, quando essencialmente merecidos. Dá aprovação quando a pessoa apresenta-se com melhor aspecto pessoal e quando faz tentativas de relacionamento com a equipe, com familiares e com outras pessoas. Nesta atitude o enfermeiro toma a iniciativa de dar apoio e guia, mesmo sem ser solicitado; isto não quer dizer que ele se imponha sobre o paciente, mas mostra-se à disposição, oferecendo ajuda espontaneamente. Esta atitude pode ser empregada frente ao comportamento hostil, ansioso, dependente, deprimido, destrutivo, desinteressado, apático, desanimado, sentimento de desvalorização, perda de esperança, sentimento de não sentir-se amado.
Fonte: Trabalho de conclusão de curso (2010)
Vanessa Salvador Lachi