CRACK
Crack é uma droga,
geralmente fumada, feita a partir da mistura de pasta de cocaína com bicarbonato de sódio. É
uma forma impura de cocaína e não um subproduto. O nome deriva do verbo
"to crack", que, em inglês, significa quebrar, devido aos pequenos
estalidos produzidos pelos cristais (as pedras) ao serem queimados, como se
quebrassem.
Fumo de crack numa lata de alumínio.
A fumaça produzida pela queima da pedra de crack
chega ao sistema nervoso central em
dez segundos, devido ao fato de a área de absorção pulmonar ser
grande e seu efeito dura de 3 a 10 minutos, com efeito de euforia mais forte do
que o da cocaína, após o que produz muita depressão, o que leva o usuário a
usar novamente para compensar o mal-estar, provocando intensa dependência. Não
raro o usuário tem alucinações e paranoia (ilusões de perseguição).
Em relação ao seu preço, é uma droga mais barata
que a cocaína.
O uso de cocaína por via intravenosa foi quase extinto no Brasil, pois foi substituído
pelo crack, que provoca efeito semelhante, sendo tão potente quanto à cocaína
injetada. A forma de uso do crack também favoreceu sua disseminação, já que não
necessita de seringa — basta um cachimbo, na maioria das vezes improvisado,
como, por exemplo, uma lata de alumínio furada.
História
Árvore de Coca na Colômbia
A história do crack está diretamente relacionada
com a da cocaína, grandemente consumida por grupos de amigos, em um contexto
recreativo. No entanto, a cocaína era uma droga cara, apelidada de “a droga dos
ricos”. Esse foi o principal motivo para a criação de uma “cocaína” mais
acessível.
De fato, a partir da década de 70 começaram a misturar a cocaína com outros produtos
e conforme outros métodos. Foi assim que surgiu o crack, obtido por meio do
aquecimento de uma mistura de cocaína, água e bicarbonato de sódio. Na década de 80, o crack se tornou grandemente popular,
principalmente entre as camadas mais pobres dos Estados Unidos.
Efeitos
psicológicos
O crack é uma substância que afeta a química do
cérebro do usuário: causando euforia, alegria, suprema confiança, perda
de apetite, insônia, aumento da energia, um desejo por mais crack, e paranoia potencial (que termina após o uso). O seu efeito
inicial é liberar uma grande quantidade de dopamina, uma química natural do cérebro que causa sentimentos
de euforia e de prazer. O efeito geralmente dura de 5-10 minutos, após o qual
os níveis de tempo de dopamina no cérebro despencam, deixando o usuário se
sentindo deprimido. Quando o crack é dissolvido e injetado, a absorção pela
corrente sanguínea é tão rápido como a absorção que ocorre quando o crack é
fumado, e sentimento de euforia pode ser experimentado. Uma resposta típica
entre os usuários é ter outro hit da droga, no entanto, os níveis de dopamina
no cérebro levam muito tempo para se restabelecer, e cada dose recebido em
rápida sucessão leva a efeitos cada vez menos intenso. No entanto, uma pessoa
pode ficar 3 ou mais dias sem dormir, enquanto sob o efeito do crack. Uso do
crack em uma festa, durante o qual a droga é tomada repetidamente e em doses
cada vez mais elevadas, leva a um estado de irritabilidade crescente, agitação
e paranoia. Isso pode resultar em uma psicose paranoica, em que o indivíduo perde o contato com a
realidade e passa a ter alucinações. Abuso de estimulantes de drogas
(principalmente anfetaminas e cocaína) pode levar a parasitose
delirante (Síndrome aka Ekbom: a crença equivocada de que são
infestados de parasitas). Por exemplo, o uso de cocaína em excesso pode levar a
formigamento, apelidado de "bugs cocaína" ou "erros de
coque", onde as pessoas afetadas acreditam ter, ou sentir, parasitas rastejando
sob a pele. Essas ilusões também estão associadas com febre alta ou abstinência
do álcool, muitas vezes juntamente com alucinações visuais sobre insetos.
Pessoas que vivem essas alucinações podem arranhar-se e causar danos cutâneos
graves e sangramento, especialmente quando eles estão delirando, podendo levar
esta pessoa a ser mais agressiva, tornando-o cometer pequenos furtos para
manter o vício.
Efeitos
fisiológicos
Crack sendo feita em uma colher
Os efeitos fisiológicos em curto prazo do crack
incluem: constrição dos vasos sanguíneos, pupilas dilatadas, aumento da
temperatura, da frequência cardíaca e da pressão arterial. Grandes quantidades
(várias centenas de miligramas ou mais) intensificam o efeito do crack para o
usuário, mas também pode levar a um comportamento bizarro, errático, e
violento. Grandes quantidades podem induzir tremores, vertigens, espasmos
musculares, paranoia ou, com doses repetidas, uma reação tóxica muito parecida
com a reação do uso das anfetaminas. Alguns usuários de crack
relataram sentimentos de agitação, irritabilidade e ansiedade. Em casos raros,
morte súbita pode ocorrer no primeiro uso do crack ou de forma inesperada
depois. As mortes relacionadas ao crack são muitas vezes resultado de parada
cardíaca ou convulsões seguido de parada respiratória. Uma tolerância
considerável ao uso do crack pode-se desenvolver, com muitos viciados relatando
que eles procuram, mas não conseguem atingir tanto prazer como fizeram da sua
primeira experiência. Alguns usuários aumentam a frequência das doses para
intensificar e prolongar os efeitos eufóricos. Embora a tolerância às altas
doses possa ocorrer, os usuários poderão também tornar-se mais sensíveis
(sensibilização) para efeitos anestésicos e convulsivante do crack, sem
aumentar a dose tomada: Aumento de sensibilidade pode explicar algumas mortes
que ocorrem após doses aparentemente baixas de crack.
O crack eleva a temperatura do corpo, podendo
causar no dependente um acidente vascular cerebral.
A droga também causa destruição de neurônios e provoca a degeneração dos músculos do corpo (rabdomiólise), o que dá uma aparência visivelmente alterada
aos seus usuários contínuos, bem característica (esquelética): olhos
esbugalhados e ossos da face salientes, braços e pernas finos e costelas
aparentes. O crack inibe a fome, de maneira que os usuários só se alimentam
quando não estão sob seu efeito narcótico. Outro efeito da droga é o excesso de
horas sem dormir, e tudo isso pode deixar o dependente facilmente doente.
A maioria das pessoas que consomem bebidas
alcoólicas não se torna alcoólatra (dependente de álcool). Isso também é válido
para grande parte das outras drogas. No caso do crack, com apenas três ou
quatro doses, às vezes até na primeira, o usuário se torna completamente
viciado. Normalmente o dependente, após algum tempo de uso da droga, continua a
consumi-la apenas para fugir do desconforto da síndrome de abstinência — depressão, ansiedade e agressividade —, comum a outras drogas estimulantes.
Após o uso, a pessoa apresenta quadros de extrema
violência, agressividade que se manifesta a princípio contra a própria família,
desestruturando-a em todos os aspectos, e depois, por consequência, volta-se
contra a sociedade em geral, com visível aumento do número de crimes
relacionados ao vício em referência.
O consumo de crack fumado através de latas de
alumínio como cachimbo, uma vez que a ingestão de alumínio está associada a
dano neurológico, tem levado a estudos em busca de evidências do aumento do
alumínio sérico em usuários de
crack.
Associação à prática
de crimes
O uso do crack — e sua potente dependência psíquica
— frequentemente leva o usuário que não tem capacidade monetária para bancar o
custo do vício à prática de delitos e para obter a droga. Os pequenos furtos de
dinheiro e de objetos, sobretudo eletrodomésticos, muitas vezes começam em
casa. Muitos dependentes acabam vendendo tudo o que têm a disposição, ficando
somente com a roupa do corpo. Em alguns casos, podem se prostituir para
sustentar o vício. O dependente dificilmente consegue manter uma rotina de
trabalho ou de estudos e passa a viver basicamente em busca da droga, não
medindo esforços para consegui-la. Tais "sintomas" foram mostrados
pelo programa Profissão Repórter, que foi ao ar pela TV Globo, no dia 16 de
novembro de 2010. O crack pode causar doenças reumáticas, podendo levar o
indivíduo a morte.
Embora seja uma droga mais barata que a cocaína, o
uso do crack acaba sendo mais dispendioso: o efeito da pedra de crack é mais
intenso, mas passa mais depressa, o que leva ao uso compulsivo de várias pedras
por dia.
O pesquisador Luis Flávio Sapori, do Instituto
Minas pela Paz, que realizou a mais aprofundada pesquisa sobre o assunto,
financiada pelo CNPq, aponta que o crack é sem dúvida um fator de risco para a
violência urbana. Segundo Sapori não há uma política nacional de saúde pública
para acolher o dependente químico que queira se tratar. Ao mesmo tempo não há
mecanismos para aqueles que necessitariam de uma internação involuntária.
Chances de
recuperação e tratamento
As chances de recuperação dessa doença, que muitos
especialistas chamam de "doença adquirida" (lembrando que a adição
não tem cura), são das mais baixas que se conhece dentre todas as
droga-dependências. A submissão voluntária ao tratamento por parte do
dependente é difícil, haja vista que a "fissura", isto é, a vontade
de voltar a usar a droga, é grande demais. Além disso, a maioria das famílias
de usuários não tem condições de custear tratamentos em clínicas particulares
ou de conseguir vagas em clínicas terapêuticas assistenciais, que nem sempre
são idôneas. Nas Comunidades Terapêuticas as internações
acontecem voluntariamente. Está regulamentado pela Resolução nº 101/2001 da
Vigilância Sanitária, mas várias das que funcionam atualmente estão fora das
normas.
É comum o dependente iniciar, mas abandonar o
tratamento.
A imprensa também tem mostrado as dificuldades
sofridas por parentes de viciados em crack para tratá-los. Casos extremos, de famílias que não conseguem
ajuda no sistema público de saúde, são cada vez mais comuns.
A melhor forma de tratamento desses pacientes ainda
parece ser objeto de discussão entre especialistas. Muitos psiquiatras e
autoridades posicionam-se a favor da internação compulsória em casos graves e
emergenciais, cobrando revisão da legislação brasileira, que restringe
severamente a internação compulsória de dependentes químicos, e aumento de vagas em clínicas públicas que
oferecem esse tipo de internação. Contra a internação involuntária, há
argumentos de que é muito baixa a eficácia do tratamento sem que haja o desejo
da pessoa de se tratar. Por outro lado, admiti-la como foco de uma política de
tratamento dos usuários de crack poderia abrir espaço para a violação de
direitos humanos, como ressaltou Pedro Abramovay, em entrevista na Revista
Cult, 165, ano 15, fevereiro 2012: "Não dá para não pensar na metáfora de
Machado de Assis - a internação compulsória pode levar todos à Casa Verde"
[hospício criado por Simão Bacamarte em 'O Alienista'].
Poucas cidades brasileiras possuem o Centro de
Atenção Psicossocial Álcool e drogas (CAPS AD). Essa modalidade de CAPS foi
criada pela portaria ministerial nº 336 de 10 de fevereiro de 2002. Possui
atendimento ambulatorial e hospital-dia com equipes interdisciplinares cuja
função é criar uma rede de atenção aos usuários de álcool e outras drogas.
Outra estratégia de intervenção voltada à abordagem
do usuário de crack são os chamados "Consultórios de Rua". Predefinição: Http://www.brasil.gov.br/enfrentandoocrack/superacao/projetos-bem-sucedidos/consultorio-de-rua
A recuperação não é impossível, mas depende de
muitos fatores, como o apoio familiar, da comunidade, a existência de rede de
saúde adequada e, de modo especial, a persistência da pessoa (vontade de
mudar). Além disso, quanto antes procurada a ajuda, mais provável o sucesso no
tratamento. Segundo o médico psiquiatra Marcelo Ribeiro de Araújo, "Faz-se
necessário a constituição de equipe interdisciplinar experiente e capacitada,
capaz de lhes oferecer um atendimento intensivo e adequado às particularidades
de cada um deles, contemplando suas reais necessidades de cuidados médicos
gerais, de apoio psicológico e familiar, bem como de reinserção social".
No caso de internação, pode ser de extrema importância
o acompanhamento do usuário após esse período, para que não recaia no vício.
Seis vezes mais potente que a cocaína, o crack tem
ação devastadora provocando lesões cerebrais irreversíveis e aumentando os
riscos de um derrame cerebral ou de um infarto.
Diferentemente do que se poderia imaginar, porém,
não são as complicações de saúde pelo uso crônico da droga, mas sim os
homicídios, que constituem a primeira causa de morte entre os usuários,
resultantes de brigas em geral, ações policiais e punições de traficantes pelo não
pagamento de dívidas contraídas nesse comércio. Outra causa importante são as
doenças sexualmente transmissíveis, como o HIV,
por exemplo, por conta do comportamento promíscuo que a droga gera. O modo de
vida do usuário, enfim, o expõe à vitimização, muitas vezes e infelizmente
levando-o a um fim trágico.
Estudos indicam que a porcentagem de usuários de
crack que são vítimas de homicídio é significativamente elevada: O pesquisador Marcelo Ribeiro de Araújo
acompanhou 131 dependentes de crack internados em clínicas de reabilitação e
concluiu que usuários de crack correm risco de morte oito vezes maior que a
população em geral. Cerca de 18,5% dos pacientes morreram após cinco anos.
Destes, cerca de 60% morreram assassinados, 10% morreram de overdose e 30% em
decorrência de AIDS.
Disseminação do
vício
Cracolândia, ponto de consumo de crack em São Paulo.
Estatísticas e apreensões policiais demonstram
um aumento percentual do consumo de crack em relação às outras drogas, vindo
seus usuários das mais variadas camadas sociais. Outros estudos relacionam a
entrada do crack como droga circulante em São Paulo ao aumento da criminalidade e da prostituição entre os jovens, com o fim de
financiar o vício. Na periferia da cidade de São Paulo, jovens
prostitutas viciadas em crack é o nicho de maior crescimento da AIDS
no Brasil.
Outras drogas, sobretudo a cocaína, funcionam, via
de regra, como porta de entrada para o crack a que o usuário recorre por falta
de dinheiro, para sentir efeitos mais fortes, ou ainda por curiosidade.
Ao local público onde legiões de usuários costumam
se aglomerar para fazer uso da droga à mídia deu o nome de cracolândia. Esses mesmos locais são cenários de tráfico de
entorpecentes, prostituição, etc., prejudicando sobremaneira o comércio nas
adjacências. O efeito social do uso do crack é o mais deletério e, nesse
sentido, o seu surgimento pode ser considerado um divisor de águas no submundo
das drogas. As pedras começaram a serem usadas no ano de 1990 na periferia de
São Paulo e, segundo se diz, de início as próprias quadrilhas de traficantes do
Rio de Janeiro não permitiam a sua entrada, pois os bandidos temiam que o crack
destruísse rapidamente sua fonte de renda: os consumidores.
Entretanto, em menos de dois anos a droga
alastrou-se como uma praga por todo o Brasil. Recentes reportagens demonstram
que o entorpecente tornou-se o mais comercializado nas favelas cariocas
multiplicando os lucros dos traficantes.
Atualmente, pode-se dizer que há uma verdadeira
"epidemia" de consumo do crack no País, atingindo cidades grandes,
médias e pequenas. Efetivamente, é o que aponta recente pesquisa da
Confederação Nacional de Municípios, amplamente divulgada, segundo a qual o
crack é consumido em 98% das cidades brasileiras.
A disseminação do uso do crack configura ainda um
grave problema de saúde pública, com tendência a acarretar forte impacto para o
custeio do sistema público de saúde. Já existem precedentes e decisões de
Tribunais de Justiça condenando o Poder Público Estadual a custear tratamentos
a usuários crônicos da droga.
Alguns consumidores, em especial do sexo feminino,
na prostituição de baixo nível, visando somar recursos para manter o próprio
vício, utilizam-se da introdução de pequenas porções de crack em cigarros de maconha, no que é chamado de "desirée",
"mesclado", "craconha" ou "criptonita", na gíria
do meio consumidor e traficante de crack. Esta prática também é utilizada por
traficantes, que adicionam uma pequena quantidade de crack à maconha e vendem
aos usuários, sem que estes saibam. É uma tática cruel para obter novos
viciados.
Questões
econômicas
Embora gere menos renda para o traficante por peso
de cocaína produzida, o crack, sendo mais viciante, garante um mercado cativo de
consumo.
A pressão sobre o tráfico de cocaína (de menor
volume e maior valor agregado) para os
países ricos tem deslocado o tráfico para o mercado de crack, passível de ser
facilmente colocado para populações de baixa renda.
REFERÊNCIAS